sábado, 30 de abril de 2016

Caminho Português Santiago - 30 Abril 2016



30 abril 2016 – Caminho Português de Santiago – Ponte de Lima - Pontevedra


O dia começou bem cedinho com o despertar um pouco depois das 6 da manhã. A noite tinha sido mal dormida devido ao barulho no corredor de outros hospedes e pessoalmente tenho sempre alguma dificuldade em dormir em camas estranhas.

Engoliu-se o (fraquinho!) pequeno-almoço, que estava incluído na diária e já estávamos prontos para partir.


O tempo estava agradável e não havia perspetivas de chuva. Apesar da temperatura baixa e da brisa que se fazia sentir, as condições não eram más.

Os vestígios da humidade da noite anterior limitavam-se ao orvalho que estava na vegetação e que, em contacto com a pele, ajudava a despertar.

Dirigimo-nos ao centro histórico para cruzar o rio Lima na ponte que dá o nome à cidade. Mas antes tínhamos de tomar o cafezinho da praxe para ajudar a malta a acordar.

  
As águas calmas do rio quase pareciam um espelho de onde surgia o voo agitado de algumas andorinhas madrugadoras, o ambiente bucólico ideal para iniciar mais uma dura jornada…


Pouco depois de passarmos a ponte surge um trilho muito estreito em lajes junto a uma pequena linha de água que serpenteia entre os campos e onde a passagem se torna um pouco difícil, o que nos obrigou varias vezes a desmontar da bicicleta e levá-la à mão, tentando não escorregar nas pedras húmidas. Como costumo dizer: tanto dinheiro gasto na bicicleta e na hora do aperto eu é que tenho de carregar com ela!

 

O trilho continua seguindo o percurso da autoestrada A3, passando por baixo de um viaduto sobre a mesma e cruza-se um pequeno riacho numa ponte, agora menos improvisada que antigamente, já que noutras alturas era apenas uma placa metálica pousada no chão. Não conseguimos esquecer esta zona, pois há 2 anos atrás fomos atacados por vários cães que se soltaram de um quintal anexo ao percurso.

Essa zona junto à autoestrada não deixa de ser uma zona agradável com muita vegetação e das mais variadas formas, até que se chega à zona da Labruja e a sua famosa subida.



Esta sim, já é uma zona complicada e de difícil marcha!

Esta talvez seja a zona mais complicada de todo o percurso pois, neste local temos de pegar nas bicicletas ao ombro, já que empurrar não é suficiente. E isto numa subida antes de chegar à cruz dos franceses.


Junto à cruz dos franceses, é tempo para as fotos da praxe! É impressionante a quantidade de pedras que lá vão sendo colocadas pelos peregrinos…

A meio da encosta esta pausa serve para recuperar o fôlego junto à Cruz dos Franceses, que assinala o local onde a população emboscou os retardatários do exército de Napoleão, na invasão de 1809.


Depois toca a trepar o que falta até à casa da Guarda Florestal na parte final da subida, onde podemos encontrar uma bica de água fresquíssima. Deu para encher os cantis e ao mesmo tempo descansar um pouco.

Será que também levam as bicicletas?
Por esta portela entramos na bacia do rio Minho pelo Vale do Coura, seu afluente em Caminha. Começamos a descer, por Aqualonga e Rubiães, que facilmente podemos identificar pela sua bela igreja românica. Sem duvida um bom local para descansar e aproveitar para comer qualquer coisa. Nós, como somos diferentes dos peregrinos normais, paramos num café recentemente inaugurado mesmo ao lado do Albergue de Rubiães.

Depois, continuamos a descer até à ponte romana e neste pequeno percurso é impossível não molhar os pés, porque a água, até no Verão, corre a rodos pelo caminho.

Passado o Coura subimos de novo, mas agora suavemente, até S. Bento da Porta Aberta, outro local onde se realizam afamadas romarias minhotas. Aproveitamos a zona da igreja e à sombra das suas árvores enchemos os cantis numa fonte que existe no local. Descansamos um pouco antes iniciarmos a descida para Fontoura.

Começamos então a descer por um trilho espetacular que se inicia mesmo junto à mesma igreja. Este trilho, perigoso q.b. quando se vai com uma mochila carregada às costas que devido às suas oscilações e toques, de vez em quando, contra o capacete pode provocar uma queda com consequências sérias no resto da jornada!

Era quase meio-dia quando cruzamos a entrada das muralhas de Valença, onde iríamos almoçar.


Com o almoço do dia anterior ainda na memória, decidimos comer algo mais leve para que as pedaladas da tarde não fossem tão penosas.

Escolhemos uma das varias esplanadas disponíveis junto à Câmara Municipal e entre tostas mistas, hambúrguer, pregos e cachorros, todos comemos uma refeição ligeira.

Saímos em direção à ponte que liga Valença a Tui, pela saída traseira das muralhas, uma porta que desconhecia e que nos deixou praticamente à entrada da ponte.


Tempo de registar fotograficamente a saída de Portugal e entrada em Espanha!

A partir daqui as setas amarelas dão lugar às conchas/vieiras colocadas nas paredes dos edifícios ou em marcos de pedra onde surge também a indicação da distância até Santiago.

Antes de haver ponte os Peregrinos atravessavam o rio de barco entre os cais do Arinho de Lavacuncas, o que ainda hoje pode ser feito. Dirigimo-nos à Sé Catedral, de onde saímos pelo túnel do Convento das Clarissas para seguir o nosso destino.

Apenas 5 kms depois de Tui, chegamos a um dos troços mais bonitos do percurso - o vale do Louro. É tão bonito que nem te apercebes que este rio é o fétido efluente das indústrias transformadoras de Porriño. Aqui, remanso da ponte das Febres morreu com a peste há 750 anos o Bispo de Tui San Telmo, no regresso de uma peregrinação a Santiago.

Um trilho largo, com bom piso e rodeado de uma vegetação verdejante e agradável com um riacho a acompanhar-nos…



Assim como após uma descida, normalmente aparece uma subida, o melhor antecedeu o pior porque pouco depois chegamos ao Polígono industrial de Porriño, que não é mais do que uma enorme zona industrial com uma reta que nunca mais acaba e sem nada de interessante.

De registar, apenas a passagem pelo fabrica da Citroen (tão grande que sozinha ocupa quase 2 km da reta, com centenas e centenas de carros alinhados, prontos a serem vendidos), a passagem superior sobre a linha de comboio que tem alguma piada quando feita de bicicleta, pois a pé não deve ter piada nenhuma.

  
Depois foi seguir pela nacional até Porriño e Mós, de seguida.

Depois de passarmos pelo Albergue de Mós somos brindados com uma subida bem penosa em alcatrão (Rua dos Cavaleiros). Nesta altura, somos quase obrigados a olhar para as mudanças da bicicleta para confirmar se não temos mudanças mais leves para engatarmos. E se estiver calor, nem vos conto a dificuldade que é fazer esta subida!

A próxima paragem foi em Redondela, para carimbar as credenciais no Albergue e reagrupar o grupo todo que nesta altura estava todo separado. Eram 17h e já se começava a ver que o albergue iria estar lotado, tal a quantidade de peregrinos que faziam o check-in. Fomos obrigados a esperar a nossa vez para carimbar as credenciais.

De Redondela a Pontevedra ainda eram 15km. O pessoal estava moralizado e decidimos prosseguir viagem, mas antes teríamos de encontrar um local onde pudéssemos comer algo “com substancia”, sem energético no nome à semelhança do pensamento do dia anterior. Se bem pensamos, melhor o fizemos, pois, encontramos um café que nos preparou um “bocadillo” de presunto fantástico. Não estava era preparado para tanto bttetista peregrino junto e, inicialmente acabou o pão, depois o presunto.

Seguimos caminho, com o estômago reconfortado e com mais alento para o que viria a seguir.

A saída de Redondela é algo penosa, visto que apanhamos uma subida muito íngreme e nesta altura as forças já não são as mesmas do inicio do dia. Normalmente, quem não está muito bem preparado faz esta subida em muito sofrimento.

Para ajudar a esquecer rapidamente a subida, a paisagem é muito agradável com zonas de floresta e a descida rápida e larga é feita com uma panorâmica digna de registo sobre a ria de Vigo.


Chegamos a Pontesampayo, onde o rio Verdugo desagua na Ria de Vigo. Para o atravessar percorremos uma extensa ponte medieval, que foi palco de uma das mais sangrentas batalhas da campanha de 1809, contra as divisões de Napoleão comandadas pelo Marechal Ney e que se dirigiam para Portugal. Foi tal a ferocidade que ainda hoje a população local põe aos cães os nomes dos generais Franceses.

Atravessada a ponte, já em Pontesampayo é uma boa altura para um merecido descanso. No bar junto à ponte bebe-se uma cidra de caña…


Animados com o descanso, temos oportunidade de percorrer um dos troços mais bonitos do Caminho. Mas primeiro temos que atravessar um labirinto de ruelas do aglomerado de Pontesampayo. Descemos então, até ao rio Ullo, que passamos sobre o extra dorso de um arco de volta inteira, com um cenário natural de rara exuberância, voltando a subir, por uma velhíssima calçada que trepa a encosta da Canicouba até Cacheiro.

Passada a área montanhosa o caminho alarga-se de novo, correndo campos, vinhas e pomares até à periferia de Pontevedra, que se adivinha já com a multiplicação de casas e a agitação urbana.

Chegamos, finalmente ao centro de Pontevedra e após algum tempo perdido a tentar localizar o nosso hotel, lá demos com ele e foi com um sentimento de dever cumprido que guardamos as bicicletas no hotel Madrid.


Totais do dia:
Distancia: 94,0km
Duração: 8h11m13s
Altimetria: 1.618mts
Velocidade média: 11,5km/h
Calorias gastas: 2.415kJ
Mais uma vez o duche quentinho soube pela vida, ainda para mais com a agua com pressão, o conforto de uma casa de banho privativa para cortar a barba e tratar da higiene pessoal.

Como a fome já apertava, saímos do hotel em busca de um restaurante no centro da bonita cidade de Pontevedra. Mais uma vez, valeu a experiência de quem já por lá tinha andado e repetimos um restaurante já conhecido da maioria dos participantes.

Jantamos no restaurante “Adega dos Avós”, onde a relação qualidade/preço foi muito satisfatória. Face à opção de jantar no hotel, que fizemos nos anos anteriores, a opção pelo restaurante permitiu ter muito mais opções e cada um pode escolher o que lhe apetecia comer.

 
Após o jantar, o frio ainda era mais que no dia anterior e a maioria do grupo regressou de imediato ao hotel e quem optou por dar uma volta, rapidamente regressou, pois, a noite não estava nada convidativa.

Horas de dormir e amanha chegamos a Santiago.

Até lá…